Censuras e condenações da Filosofia

Censura e interdição

É apenas no século XX que a historiografia da Filosofia Medieval descobre o interesse filosófico, institucional e cultural das censuras e condenações públicas da Filosofia. Essas censuras atingem sobretudo as obras de Aristóteles e de alguns dos seus comentadores (como Averróis) ou os seus seguidores medievais. A censuraproferida em Paris pelo Bispo Tempier em 1277, ou em Oxford pelo arcebispo Roberto Kilwardby no mesmo ano, atingem um grupo mais diversificado de teses e posições filosíficas, teológicas e éticas.

O conhecimento da filosofia dos séculos XIII e XIV modificou-se substancialmente com a compreensão dos processos de censura e condenação, seus agentes, seus alvos e consequências. Não é apenas o ambiente de liberdade intelectual e de discussão que é atingida, a própria orientação do pensamento e dos interesses especulativos são afectados pelo temor de não cair nas posições condenadas, ou pela explícita ou disfarçada tentativa de argumentar em favor das posições criticadas. As sucessivas tentativas de julgar as posições filosóficas como heréticas eleva a Filosofia a um estatuto político institucional e pessoal diferente da de simples recurso especulativo.

A "descoberta" da censura e das condenações como facto filosófico e científico relevante suscitou também uma querela entre historiadores da filosofia e das ciências, sobre a importância e consequências das condenação, em particular a de 1277.

OS TEXTOS

Colectânea

• F. León Florido – F. Rodamilans Ramos (coord.), Las herejías académicas en la Edad Media. Listas de errores en las universidades de París y Oxford, Madrid 2015. --> rec pdf.

1210, Sens (Sínodo condena as obras de Amalrico de Béne e David de Dinant)

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, p. 70, Paris 1889. --> pdf archiv org
• Grant, Edward (ed.), A Source Book in Medieval Science, Cambridge (Mass.) 1974, p. 42 ("The Condemnation of Aristotle's Books on Natural Philosophy in 1210 at Paris", trad. L. Thorndike) --> GoogleBooks

1231.04.13, Latrão: papa Gregório IX manda expurgar as obras de filosofia natural de Aristóteles

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 143-144, Paris 1889. --> pdf archiv org
• Grant, Edward (ed.), A Source Book in Medieval Science, Cambridge (Mass.) 1974, p. 43 ("The Condemnation of Aristotle's Books on Natural Philosophy in 1210 at Paris", trad. L. Thorndike) --> GoogleBooks

1241.01.13, Paris: Condenação de 10 erros "contra a verdade teológica", pelo Bispo de Paris

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 170-172, Paris 1889. --> pdf archiv org

[1255, Paris: Estatutos da Universidade de Paris prescrevem as obras de Aristóteles no plano de estudos da Faculdade de Artes

(neste caso não se trata de proibir mas de tornar obrigatório o estudo de Aristóteles)

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 277-278, Paris 1889. --> pdf archiv org
• Grant, Edward (ed.), A Source Book in Medieval Science, Cambridge (Mass.) 1974, p. 43-44 ("The Natural Books of Aristotle in the Arts Curriculum at the University of Paris in 1255", trad. L. Thorndike)] --> GoogleBooks

1270.12.10, Paris: Condenação de 14 teses ensinadas pelos mestres de Artes

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 486-487, Paris 1889. --> pdf archiv org
• Libera, A. de, La philosophie au Moyen âge, (3.e Cycle), Paris 1993, p. 414 (tradução das 14 teses).

1272.04.01, Paris: Estatuto da Faculdade de Artes que restringe a discussão de questões teológicas na faculdade

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 499-500, Paris 1889. --> pdf archiv org
• Grant, Edward (ed.), A Source Book in Medieval Science, Cambridge (Mass.) 1974, p. 44-45 ("The Natural Books of Aristotle in the Arts Curriculum at the University of Paris in 1255", trad. L. Thorndike)] --> GoogleBooks

1277.03.07, Paris: Condenação pelo bispo Tempier de 219 (ou 220) teses ensinadas pelos mestres de Artes

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 543-558 (doc. 473), Paris 1889. --> pdf archiv org
• Mandonnet, P. Siger de Brabant et l'averroïsme latin au XIIIe siècle, 2 vols., Louvain, 1908-1911, cfr vol. 2, pp. 175-191.
• Grant, Edward (ed.), A Source Book in Medieval Science, Cambridge (Mass.) 1974, pp. 45-50 ("The Condemnation of 1277: A Selection of Articles relevant to the History of Medieval Science") --> GoogleBooks
• Anzulewicz, Henryk, «Eine weitere Überlieferung der Collectio errorum in Anglia et Parisius condemnatorum im Ms. lat. fol. 456 der Staatsbibliothek Preussischer Kulturbesitz zu Berlin», Franziskanische Studien, 74 (1992) 375-399.
• Flasch, Kurt. Aufklärung im Mittelalter? Die Verurteilung von 1277, Frankfurt 1989.
• Piché, D. (ed.), La condemnation parisienne de 1277. Texte latin, traduction, introduction et commentaire, Paris 1999.
• León Florido, F., La condena de la filosofia : 1277. Estudio y traducción del «syllabus» de Esteban Tempier, Madrid 2007 (edição bilingue).

1277.03.18, Oxford: Condenação pelo Arcebispo Roberto Kilwardby de 30 teses de gramática, lógica e filosofia natural

• Denifle, H. and E. Châtelain (eds.), Chartularium Universitatis Parisiensis, vol. 1, pp. 558-560 (doc. 474), Paris 1889. --> pdf archiv org

Egídio Romano, Os erros dos filósofos (De erroribus philosophorum)

• Giles of Rome, Errores philosophorum, critical text with notes and introduction by Josef Koch, english transl. John O. Riedl, Marquette University Press, Milwaukee 1944.

Egídio Romano, Apologia

• Wielockx, Robert (ed.), Aegidii Romani Apologia, Firenze 1985.

Raimundo Lúlio, Declaratio

(um comentário dialogado das 219 teses condenadas em Paris em 1277)

• Declaratio Raimundi per modum dialogi edita, ed. M. Pereira - T. Pindl-Bücher, in Raimundi Lulli Opera Latina, XVII (CC-SL, 79), Turnhout 1989, pp. 219-402.
• Bonmariage, C. - M. Lambert, Lulle et la Condamnation de 1277 : La Déclaration de Raymond écrite sous forme de dialogue, colab. J.-M. COunet, Louvain-la-Neuve - Paris 2006.

ESTUDOS

ESTUDOS GERAIS

• Bianchi, L., Censure et liberté intellectuelle à l'Université de Paris: XIIIe-XIVe siècles, Paris 1999.
• Duhem, P., vol. IV de Le système du monde : histoire des doctrines cosmologiques de Platon a Copernic, vol. VII: Le reflux de l'aristotélisme; les condamnations de 1277, Paris 1954. --> pdf [56 MB].
• Grant, E., The Foundations of Modern Science in the Middle Ages. Their Religious, Institutional, and Intellectual Contexts, Cambridge 1996.
• F. León Florido (coord.), Las condenas de Aristóteles en la Edad Media, Ed. Kyrios, Valencia 2013. --> rec pdf.
• Libera, A. de, Penser au Moyen Âge, Paris 1991.
• Murdoch, J.E., «Pierre Duhem and the History of Late Medieval Science and Philosophy in the Latin West,», in A. Maierù – R. Imbach (cura), Gli studi di filosofia medievale fra otto e novecento, Roma 1991, pp. 253-302.
• Van Steenberghen, F., Maître Siger de Brabant, Louvain 1977.
• — Thomas Aquinas and Radical Aristotelianism, Washington, D. C. 1980
• Thijssen, J. M. M. H., Censure and Heresy at the University of Paris, 1200-1400, Philadelphia 1998.
• Wippel, John F., Mediaeval Reactions to the Encounter Between Faith and Reason. Milwaukee, 1995.

1277

• Uma avaliação pelo The Economist: http://www.economist.com/node/346780?Story_ID=346780
• Aertsen, Jan A., Kent Emery Jr., Andreas Speer (eds.), Nach der Verurteilung von 1277. Philosophie und Theologie an der Universität von Paris im letzen Viertel des 13. Jahrhunderts, Berlin - New York 2001.
• Bianchi, L., Il vescovo e i filosofi: La condanna parigina del 1277 e l'evoluzione dell'aristotelismo scolastico. Bergamo, 1990.
• — «1277: A Turning Point in Medieval Philosophy?», in: Jan A. Aertsen and Andreas Speer (eds.), Was ist Philosophie im Mittelalter? Berlin - New York 1998, pp. 90-110.
• Calma, D., «Du bon usage des grecs et des arabes. Réflexions sur la censure de 1277», in L. Bianchi (ed.), Christian Readings of Aristotle from the Middle Ages to the Renaissance, (Studia artistarum, 29) Brepols, Turnhout 2011, pp. 115-184.
• Grant, E., «The Condemnation of 1277, God's Absolute Power, and Physical Thought in the Late Middle Ages», Viator, 10 (1979) 211-244.
• Hissette, Roland. Enquête sur les 219 articles condamnés à Paris le 7 mars 1277. Louvain, 1977.
• — «Albert le Grand et Thomas d'Aquin dans la censure parisienne du 7 mars 1277», in A. Zimmermann (Hrg.), Studien zur mittelalterlichen Geistesgeschichte und ihren Quellen, Berlin, 1982, pp. 229-237.
• — «Note sur le syllabus ‘antirationaliste’ du 7 mars 1277», Revue Philosophique de Louvain, 88 (1990) 404-416.
• — «Thomas d'Aquin compromis avec Gilles de Rome en mars 1277», Revue d'Histoire Ecclésiastique, 93 (1998) 5-26.
• — «Thomas d'Aquin directement visé par la censure du 7 mars 1277? Réponse à John F. Wippel», in: J. Hamesse (ed.), Roma, Magistra mundi. Itineraria culturae medievalis Mélanges offerts au Père L.E. Boyle à l’occasion de son 75e anniversaire, Louvain-La-Neuve 1998, pp. 425-437.
• Libera, A. de, «Philosophie et censure. Remarques sur la crise universitaire parisienne de 1270-1277», in: Jan A. Aertsen and Andreas Speer (eds.), Was ist Philosophie im Mittelalter?, Berlin - New York 1998, pp. 71-89.
• Murdoch, J.E., «1277 and Late Medieval Natural Philosophy», in: J. A. Aertsen – A. Speer (Hrg.), Was ist Philosophie im Mittelalter?, Berlin - New York 1998, pp. 111-121.
• Normore, C.G., «Who Was Condemned in 1277?», The Modern Schoolman, 72 (1995) 273-281.
• Thijssen, J. M. M. H., «1277 Revisited: A New Interpretation of the Doctrinal Investigations of Thomas Aquinas and Giles of Rome», Vivarium, 34 (1997) 1-29.
• Thijssen, Hans, «Condemnation of 1277», The Stanford Encyclopedia of Philosophy, Edward N. Zalta (ed.), URL = http://plato.stanford.edu/entries/condemnation/
• Wielockx, Robert (ed.), Aegidii Romani, Apologia, Firenze 1985.
• — «Autour du procès de Thomas d'Aquin” in A. Zimmermann  (Hrg.), Thomas von Aquin. Werk und Wirkung im Licht neurerer Forschungen, Berlin 1988, pp. 413-438.
• — «Procédures contre Giles de Rome et Thomas d'Aquin. Réponse à J.M.M.H. Thijssen», Revue des sciences philosophiques et théologiques, 83 (1999) 293-313.
• — «A Separate Process against Aquinas. A Response to John F. Wippel», in J. Hamesse (ed.), Roma, Magistra mundi. Itineraria culturae medievalis Mélanges offerts au Père L.E. Boyle à l’occasion de son 75e anniversaire, Louvain-La-Neuve 1998, pp. 1009-1030.
• Wippel, John F., «The Condemnations of 1270 and 1277 at Paris», The Journal of Medieval and Renaissance Studies. 7 (1977) 169-201.
• — «Thomas Aquinas and the Condemnation of 1277», The Modern Schoolman, 72 (1995) 233-272.
• — «Stephen Tempier and Thomas Aquinas: A Separate Process Against Aquinas?», Freiburger Zeitschrift für Philosophie und Theologie, 44 (1997) 117-136.

Eternidade do Mundo

Felicidade intelectual

Dupla verdade

• Bianchi, L. Pour une histoire de la «double vérité», Paris 2008
• Dales, R. C., «The Origin of the Doctrine of the Double Truth», Viator, 15 (1984) 169-79.

Natureza

• Grant, E., «The Effect of the Concemnation of 1277», Kretzmann, N. – A. Kenny – J. Pinborg (eds.), E. Stump (coll.), The Cambridge History of Later Medieval Philosophy. From the Rediscovery of Aristotle to the Disintegration of Scholasticism 1100-1600, Cambridge 1982, pp. 537-539.
• Murdoch, J.E., «Pierre Duhem and the History of Late Medieval Science and Philosophy in the Latin West,», in A. Maierù – R. Imbach (cura), Gli studi di filosofia medievale fra otto e novecento, Roma 1991, pp. 253-302.
• Murdoch, J.E., «1277 and Late Medieval Natural Philosophy», in J. A. Aertsen – A. Speer (Hrg.), Was ist Philosophie im Mittelalter?, Berlin - New York 1998, pp. 111-121.

Omnipotência divina

Vazio (vacuum)

• Grant, E., Much Ado about Nothing: Theories of Space and Vacuum from the Middle Ages to Scientific Revolution,  Cambridge University Press, Cambridge 1981 --> Googlebooks (parcial)

Sexo e moral