José Meirinhos (atualizado em 2024)
[uma alternativa inspiradora: Pedro Eiras, Como se escreve um ensaio]
A realização de trabalhos de pesquisa, sob a forma de ensaio, de artigo, de comentário, de crítica de um livro, de análise de um problema, de discussão de hipóteses, ou outra, com a sequente apresentação e discussão e as necessárias revisões, constituem formas enriquecedoras de abordar e aprofundar um tema filosófico. Este guia é um contributo para a elaboração de trabalhos nas disciplinas que leciono, visando a aquisição de hábitos de pesquisa por quem os realize, mas também a correspondente avaliação. Estes trabalhos, dependendo da sua natureza e acompanhamento, podem revestir múltiplas formas, variar na extensão, visar diferentes fins de avaliação.
Há muitas formas de trabalhar, por isso outros docentes proporão seguramente procedimentos distintos dos que aqui se sugerem.
1.1. Finalidade dos trabalhos de investigação
Os trabalhos escritos são uma modalidade de aprendizagem única, porque permitem integrar a pesquisa pessoal, a construção de argumentos, o treino da transmissão de conhecimento, a exposição de um contributo aprofundado sobre o objeto de estudo tratado no trabalho. A sua realização depende de uma opção e empenhamento do estudante no aprofundamento de um dado tema.
1.2. O que é um trabalho de investigação
O trabalho de investigação constitui um aprofundamento prático, técnico e teórico, de algum aspeto ou tema do programa da unidade curricular, ou que a ele diga respeito. A sua realização pressupõe trabalho de pesquisa e exposição pessoais, mesmo quando realizado em grupo. Será apresentado sob a forma escrita, embora se possa admitir, acessoriamente, o recurso a meios gráficos e audiovisuais.
1.3. Objetivos
Os trabalhos de investigação têm um objetivo simultaneamente formativo e filosófico. A filosofia é uma forma de expressão de pensamento, por isso, pretende-se que os trabalhos permitam adquirir e desenvolver capacidades de trabalho prático (leitura, consulta, compilação, pesquisa, fichagem, etc.), de trabalho técnico (análise, conceptualização, síntese, redação, etc.) e de trabalho teórico (reflexão, questionamento, fundamentação, eventualmente uma abordagem crítica, inovadora e pessoal dos problemas).
1.4. A investigação: trabalho pessoal problematizador
Estes trabalhos revestirão preferencialmente a forma de uma (curta) dissertação escrita, ou ensaio. Deverão assentar num trabalho pessoal de investigação e de reflexão e deverão, por isso, contribuir para a aquisição de conhecimentos filosóficos específicos, mas também para a constituição de uma atitude questionadora e de afirmação de posições fundamentadas.
Como primeira regra de elaboração, deve ter-se presente que qualquer trabalho de investigação é antes de tudo um compromisso de honestidade intelectual do seu autor.
1.5. Extensão e tipos de trabalho de investigação
A sua extensão poderá ser variável, a definir consoante o tema escolhido e a sua finalidade.
De preferência, os ensaios, dissertações e teses, deveriam versar o estudo de um tema filosófico bem delimitado, por exemplo em um autor (ou em uma obra de um autor), ou a comparação de dois autores a propósito de um tema específico, ou a análise de argumento. Poderão ser também, a título de exemplo, ensaios de aplicação ou de investigação sobre os mais variados problemas filosóficos em algum sub-domínios (metafísica, gnosiologia, estética, epistemologia, cosmologia, ética, teologia, etc.) numa obra, num autor, num período histórico, comparando autores ou obras, etc. Ou, tratando-se de um curso ou programa que contemple o estudo de obras, pode mesmo ser realizado um trabalho sobre uma dessas obras (no todo, em parte, sobre posições específicas nela defendidas, etc.).
Os trabalhos poderão assumir diferentes formas
É também admissível que uma mesma investigação combine ou recorra a várias destas formas de trabalho.
1.5. Acompanhamento e partilha ao longo da pesquisa
De modo a potenciar o aspeto investigacional, os trabalhos são grandemente enriquecidos quando podem ser discutidos com alguém que esteja interessado e possua conhecimento sobre o seu conteúdo. Aconselha-se vivamente que o trabalho possa ser partilhado com colegas ou com o docente, por exemplo através de entregas sucessivas, ou por apresentações orais que podem servir como etapas para ir melhorando o estilo expositivo, a solidez dos argumentos, a coerência das partes, etc.
1.6. Estilo e escrita
O estilo adotado na escrita do trabalho é uma opção pessoal. Pode ser mais analítico ou mais descritivo, mais adjetivado ou mais sóbrio. O texto deve ser escrito para uma audiência geral, devendo ser claro e explícito na exposição e na argumentação, sem rebuscados inúteis ou exposições sem sentido. Devem ser evitados os subentendidos, as alusões sem concretização, porque tornam o texto incompreensível ou fútil.
Uma primeira decisão a tomar é sobre qual a pessoa verbal a usar. Há autores que preferem usar o plural magestático ou de modéstia (ex: "Pretendemos discutir neste trabalho a relação entre essência e existência. Pensamos que a questão deve ser colocada de um outro modo"), outros na primeira pessoa do singular ((ex: "Pretendo discutir neste trabalho a relação entre essência e existência. Penso que a questão deve ser colocada de um outro modo"). As duas formas são usadas nos trabalhos académicos. Trata-se acima de tudo de uma questão de preferência pessoal. Nos meus trabalhos uso sempre a primeira pessoa. Seja adotada uma ou outra forma ela deve ser usada de modo constante, não se devendo usar ora uma ora outra num mesmo texto.
2.0. Como começar é a grande pergunta que serve mais para bloquear do que para arrancar com o trabalho. Énecessário sair dela rapidamente fazendo algumas opções que depois podem ir sendo modificadas com a evolução da pesquisa. Algumas tarefas simples ajudam a começar, amais importante das quais é a eleboração deumplanode trabalho.
2.1. A realização de um trabalho de investigação deverá ser antecedida por um plano de trabalho que servirá para orientar a pesquisa [na página moodle encontra-se um formulário para apresentação de planos de trabalho], onde constarão:
a) Título, que deve ser conciso e descritivo, captando a atenção e a curiosidade do leitor.
b) Resumo, com identificação da questão principal a estudar (autor, obra, problema, conceito, etc.), a hipótese a desenvolver, a metodologia e o contributo do estudo para o tema em estudo.
d) Palavras chave, em geral quatro ou cinco conceitos ou nomes que identifiquem ou classifiquem o conteúdo do trabalho.
e) Bibliografia breve, com as referências para o início da pesquisa.
O plano organiza-se em torno de um tema ou de um problema a discutir, que devem ser claramente delimitados e enunciados. Temas muito vagos ou demasiado amplos são de mais difícil concretização e devem ser evitados. Um trabalho como "A filosofia de Platão" é demasiado vasto e impreciso para poder ser realizável num tempo delimitado e seria mais um trabalho de exposição de um saber supericial, fecolhido de outros e não um trabalho de pesquisa que visa aprofundar ou criar conhecimento. Por isso, devem ser escolhidos temas/problemas a cuja pesquisa e exposição corresponda uma efetiva aquisição de conhecimento para quem o realiza e para quem o possa ler.
Sobre as partes de um plano ou de um artigo, ler o artigo de Peter LaPlaca, Adam Lindgreen, Joëlle Vanhamme, «How to write really good articles for premier academic journals», Industrial Marketing Management, 68 (2018) 202-209, DOI: https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2017.11.014.
2.1.1. Há trabalhos de mais longo fôlego, por exemplo dissertações (Mestrado) ou teses (Doutoramento), que exigem também um plano. Neste caso ele configura já um plano a desenvolver e também um calendário de realização. Por exemplo, nos Mestrados e Doutoramento em Filosofia da FLUP é solicitado ao/à estudante a apresentação de um plano de trabalho, que é depois aprovado pela comissão científica do curso e pelo orientador/a. Também nos concursos de bolsas (por exemplo da FCT ou das unidades de investigação) também é exigido um plano desta natureza.
Neste caso o plano deve ser mais desenvolvido, para mostrar quer a importância intrínseca da proposta, quer a sua viabilidade. Os limites de palavras para cada elemento podem variar. Normalmente um plano de dissertação ou de tese tem as seguintes partes, dando-se os limites de palavras de um concurso aberto pelo IF, mas esses limites podem variar.
a) Autor/a
b) Título (máximo 20 palavras)
c) Resumo (máximo 200 palavras)
d) Palavras chave (máximo de 5)
e) Estado da arte (máximo de 600 palavras)
f) Objetivos (máximo 300 palavras)
g) Descrição detalhada (máx. 900 palavras)
h) Bibliografia (máximo 25 referências)
2.2. O plano é apenas um instrumento de trabalho e, dentro de certos limites que não o desvirtuem, poderá ser alterado no decurso da investigação. Visa, antes de mais, delimitar o tema e orientar a organização dos materiais (textos e estudos, notas de leitura, reflexões) para a redação final. O plano de trabalho será individualmente discutido com o/a orientador/a com o objetivo de delinear e orientar os seus aspetos de investigação.
2.3. Calendário:
Cada trabalho deve ter associado um calendário de realização, que ajuda a dosear o esforço de leitura e de escrita, tendo em conta as datas limite fixadas pela avaliação a que se destina (do curso, do congresso, da revista, etc.).
2.4. Cada estudante deverá dar conhecimento ao docente, pelo menos em dois momentos diferentes, da progressão da sua investigação. Estes contactos de orientação tutorial também serão tidos em conta na avaliação final do trabalho. Quando se trata de uma dissertação de Mestrado ou uma tese de Doutoramento o ccontacto com o orientador deve ser periódico e mais regular; e é indispensável dar conhecimento das dificuldades e dos avanços da pesquisa, nomeadamente através da entrega de partes ou capítulos da dissertação/tese.
2.5. A cada etapa o texto deve ser cuidadosamente revisto, incluindo uma avaliação do trabalho realizado, que ajuda a definir se ainda deve ser aperfeiçoado e em quê, ou se está concluído por terem sido alcançados todos os objetivos previstos.
Não há um método de investigação filosófica, para além do que cada um pode ou consegue fazer com a leitura, o estudo e a reflexão sobre os textos, os problemas, o que existe, os factos. A pesquisa filosófica pode e deve ser sempre aperfeiçoada, mesmo quando reveste formas ousadas, ou até sobretudo nestes casos, para que as novas propostas não sejam debilitadas por organização ou exposição inadequadas. A
O trabalho de investigação deve, na sua apresentação final (ver 4.1.d), refletir as diferentes etapas do trabalho realizado e os resultados alcançados.
Deve distinguir-se o método em filosófico (um tema intrínseco à filosofia) e a metodologia de preparação e presentação da pesquisa (comum a todas as áreas científicas).
A consulta de alguma(s) obra(s) sobre metodologia da pesquisa (ver § 1 da Bibliografia) poderá ser de grande utilidade inicial.
Sobre a questão do método como questão filosófica (ou metafilosofia) ver obras como
Para uma análise e apresentação dos diferentes métodos em Filosofia (na perspetiva da filosofia analítica contemporânea), ver:
Para uma apresentação de um modelo da análise de texto e da "dissertação":
Sobretudo ter presente que a melhor aprendizagem dos métodos em filosofia se faz com a leitura dos clássicos.
4.1. Sem aniquilar a criatividade literária e formal dos respetivos autores, cada trabalho deverá ter pelo menos as seguintes partes (ou pelo menos o conteúdo que lhes corresponde):
a) Título (deve ser conciso, descritivo, e informativo, captando a atenção e a curiosidade do leitor)
b) Introdução : como a sua função é essencialmente metodológica, deverá conter
— a indicação do tema do trabalho
— formulação dos problemas filosóficos a estudar
— descrição das partes do trabalho
— breve antecipação das principais conclusões ou resultados mais relevantes
A Introdução é uma parte fulcral em qualquer trabalho de investigação. Apesar de ser o texto que o abre é, geralmente, o último a ser redigido/ultimado. Desde logo serve para dar razão e realçar a importância do tema escolhido. Indicar a metodologia de trabalho usada também poderá ser útil para o leitor. Uma boa introdução mostra desde logo o perfeito domínio sobre os problemas e a forma de os tratar. Contudo, a introdução não é apenas uma peça retórica. Ao proporcionar uma ocasião para o autor olhar para o seu próprio trabalho obriga a uma maior atenção metodológica, função que a introdução desempenhará melhor se não for deixada para o fim, mas se for sendo escrita e revista ao longo do trabalho de investigação. Nesse caso poderá até ser um bom instrumento de auto-controle.
c) Revisão da literatura ou estado da arte: a investigação deve incluir ou mesmo partir de um levantamento e análise da literatura sobre o tema ou o problema em estudo. Para a preparar é indispensável a pesquisa bibliográfica prévia e o conhecimento dos estudos relevantes e seus resultados, que evidenciem quer o conhecimento de estudos já existentes, quer a necessidade do estudo a empreender
Sobre esta questão ver a metodologia PRISMA: Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD et al. «A declaração PRISMA 2020: diretriz atualizada para relatar revisões sistemáticas», Revista Panamericana de Salud Publica, 2022, 46:e112. https://doi.org/10.26633/RPSP.2022.112 ou em pdf https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9798848/pdf/rpsp-46-e112.pdf
Ou o artigo de Hannah Snyder, «Literature review as a research methodology: An overview and guidelines», Journal of Business Research, 104 (2019) 333-339. DOI https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.07.039
Ou o manual da Atlas.ti "The Guide to Literature Reviews": https://atlasti.com/guides/literature-review
d) Desenvolvimento : deverá ter um organização clara, em capítulos, parágrafos, etc.
— o tema deverá ser subdividido ou, pelo menos, a sua exposição deve obedecer a uma progressão coerente,
— o corpo central do trabalho de investigação carateriza-se por oferecer uma exposição fundamentad(or)a, em sequência progressiva, do tema que se pretende expor ou da tese a defender,
— cada capítulo ou parágrafo deverá ser convenientemente enunciado no seu início,
— a citação de autores ou do texto estudado é um elemento fulcral da narração académica. Deverá ser evitado o uso de textos em segunda mão. As citações e referências bibliográficas completas são indispensável para a fundamentação de um trabalho e são, desde logo, um testemunho da honestidade intelectual do autor. Por isso convém dominar com rigor os modos de citação de fontes e de literatura secundária. Este aspeto tem uma relação direta com a bibliografia final (ver a alínea f).
e) Conclusão:
— sucinta descrição das principais aquisições (pode ser recapitulativa ou de resposta às questões suscitadas a longo do trabalho),
— apreciação crítico-filosófica sobre o tema/autor/assunto estudados,
— balanço da investigação realizada,
— aí podem ser também indicados alguns campos pelos quais a investigação se deveria prolongar.
Muitas obras não possuem conclusão, nem isso é necessário. A conclusão é sobretudo requerida quando a investigação seguiu múltiplas pistas (tratando problemas diferentes ou parcelares em cada parte) que é preciso reunir e realçar. A conclusão é supérflua, por exemplo, nos casos em que a introdução já é por si explicitadora e em que as aquisições da investigação foram sendo evidenciadas de modo a que o leitor se aperceba que são o resultado da própria investigação.
f) Bibliografia, pode conter as referências da bibliografia usada ou da bibliografia consultada (que pode ser mais extensa do que a bibliografia citada):
— deverá incluir separadamente: a) fontes; b) bibliografia utilizada; c) outra bibliografia.
— aí devem ser dadas indicações precisas sobre todas as obras consultadas, mesmo que não tenham sido citadas. Quando se incluem obras que não puderam ser usadas convém explicitá-lo, colocando-as, por exemplo, num parágrafo à parte (como “outra bibliografia”), pois o leitor ao encontrar uma obra referida na bibliografia pressupõe que o autor do trabalho a usou.
Existem normas precisas para a elaboração de bibliografias. É relativamente secundário o modelo de bibliografia usado, mas é indispensável que a Bibliografia seja: 1) coerente com o modo de citação usado ao longo do trabalho; 2) rigorosa quanto aos materiais efetivamente citados e usados; 3) sistemática, dando todas as referências de cada obra e de todas as obras. Um modelo de bibliografia poderá ser consultado no final deste trabalho.
g) Anexos: por vezes é necessário documentar partes da investigação, para não sobrecarregar as outras partes esses maetiais costumam ser inclídos nesta secção final, onde podem ser reunidas planificações, quadros e esquemas, bases de dados quantitativos ou qualitativos, os textos analisados, etc.
h) Índice(s) e Tábua de conteúdo: podem ser de vária natureza, mas o mais importante é o índice onomástico, com todos os nomes de autores citados. Em geral são um instrumentos muito útil para quem consulta uma dissertação ou uma tese, ou um livro. A sua elaboração ajuda a identificar e corrigir erros na escrita de nomes (no índice onomástico), ou a estabelecer melhor relações entre partes ou entre autores estudados (tábua de conteúdo). Os processadors de texto possuem funções para a automatização dos índices e tábua de conteúdo.
4.2. O trabalho académico em Filosofia distingue-se por uso rigoroso das fontes, primárias (os textos ou autores que estão no centro da investigação) e secundárias (os estudos). A discussão filosófica faz-se, em quase todos os casos, em confronto com textos ou argumentos de outros autores, que devem devem ser estudados e citados com todo o rigor. A presquisa deve ser preparada e a redação organizada para o recurso às fontes ser claro e dele resultar um enriquecimento para o conteúdo filosófico e literário do texto.
O trabalho com fontes escritas é uma compnonete essencial de qualquer pesquisa em Filosofia, que coloca diversas dificuldades: que fontes selecionar no meio de um imenso de volume de publicações disponíveis? Como localizar e como estudar as fontes? Como integrar e citas as fontes no texto final?
Sobre o trabalho com fontes pode consultar-se o Harvard Guide to Using Sources, fazendo as adaptações necessárias para o trabalho em Filosofia.
Sobre os modos de citação ver abaixo a secção 4.3.
Sobre o rigor intelectual e o plágio ver abaixo a secção 5.
4.3. Tratando-se de um ensaio ou de uma pesquisa histórico-filosófica, o trabalho deve seguir os modelos consagrados no meio académico para a citação de fontes. Devem ser usados de modo sistemático e homogéneo ao longo do trabalho os mesmos critérios de disposição de títulos, texto, notas, etc. Embora isto também seja algo que se adquire e se aperfeiçoa com o tempo, existem hoje diversas obras com normas ou modelos sobre datilografia-paginação, organização de texto e das notas, citação de autores, bibliografia, elaboração de índices, etc. Na Bibliografia (ver § 8.3.) indicam-se algumas dessas obras. O importante é optar por qualquer um desses modelos e depois adquirir hábitos de trabalho seguindo de modo coerente e sistemático as suas normas. O ideal é até que o estudante pratique a utilização de diferentes modelos em diferentes trabalhos.
Aconselha-se a leitura das regras de apresentação das seguintes revistas ou publicações, optando pela que melhor convenha ao trabalho que se pretende apresentar:
Para artigos de revistas:
Filosofia
Filosofia política
Filosofia medieval
Para Atas de congressos: (procurar no congresso)
Para artigos de enciclopédia, ver por exemplo:
Para coleções de livros: (procurar na editora)
4.3. Citações, notas e referências bibliográficas
Existem diversos modelos de citação das fontes ou dos estudos usados numa investigação. O autor de um trabalho deve adotar um modelo e segui-lo de modo rigoroso, para dar consistência ao seu trabalho. A explicitação dos textos/estudos usados na pesquisa não diminui o texto, mas valoriza-o e torna explícito todo o trabalho de pesquisa realizado.
É indispensável que as referências sejam bem explícitas (sem a sua existência qualquer citação é um plágio). As citações textuais devem estar entre aspas, em alguns casos justifica-se que estejam até destacadas no texto, sobretudo se tiverem alguma extensão, ou se forem objecto de discussão detalhada, ou se tiverem importância muito relevante para o que está a ser discutido.
As referência bibliográficas podem ser dadas ou no corpo do texto ou em nota. Adotando ou um ou outro modelo, ele deve ser seguido de modo sistemático. Quando as referências são dadas de modo abreviado no corpo do texto, é indispensável terminar com uma bibliografia onde as referências bibliográficas sejam dadas de modo completo. As notas também podem dar as referências de modo completo, o que pode não dispensar a bibliografia final.
Tratando-se de trabalhos de pesquisa iniciais é importante apresentar uma bibliografia no final. Estudos mais avançados e certos tipos de trabalho, como artigos de revista ou comunicações em congressos, podem excluir bibliografias finais.
4.4. Apresentação gráfica e entrega do trabalho
Também neste aspeto o trabalho deverá ser claro e organizado, seguindo-se de modo rigoroso e sistemático as regras da publicações ou da instituição para onde é elaborado o trabalho, ensaio, disserttação ou tese.
Quando não existam indicações, podem ser usadas estas: letra Times ou equivalente, corpo 12, com interlinha a 1,5 espaços, com margens de Topo: 2 cm; Base: 2 cm; Esquerda: 2,5 cm; Direita 2,5 cm.
Normalmente os trabalhos são entregues por via eletrónica em documento word. Mas, também pode ter que ser entregue em versão impressa.
No meu caso particular, quando solicitada, a versão impressa do trabalho deve ser entregue sem encadernações ou capas, apenas agrafado. No topo deve ser identificado claramente o título, o autor, a data e a disciplina para o qual é preparado
Em alguns casos os docentes solicitam a entrega do trabalho impresso. Desaconselha-se tudo o que possa encarecer a impressão do trabalho.
A honestidade e o rigor são duas das mais estimáveis caraterísticas do trabalho académico. O plágio ou qualquer outra forma de desonestidade intelectual são totalmente inaceitáveis.
Indicar de forma rigorosa as fontes usadas é uma das responsabilidades do investigador, que deve apresentar de modo claro os resultados das suas pesquisas, sem fraudes ou falsificações. Isto é válido para qualquer domínio do saber. Creditar e indicar a fonte não desvaloriza um trabalho, torna-o mais sólido e obriga o autor a um prática de rigor evitando a descrição dissimulada ou vaga de ideias.
Convém ter presente que um trabalho de pesquisa não é uma colagem de citações que basta serem identificadas para nos podermos apropriar delas. Um trabalho de pesquisa deve ter uma importante componente de trabalho pessoal de investigação e de escrita.
Sobre "plágio", as suas incinveniências e como evitá-lo, ver esta página sobre integridade académica da Notre Dame University Australia https://www.notredame.edu.au/students/support/study-support/academic-integrity
O mais acessível dos meios de busca de informação e conhecimento é hoje a internet, que acumula de modo enganador as funções de biblioteca, de consultor, de parceiro de diálogo, de silencioso e passivo fornecedor de “coisas”, mesmo de confidente. Contudo, a maior parte da informação disponível não é fiável. Um trabalho realizado com informação recolhida da internet é totalmente inútil ou redundante, pelo menos é repetição do mesmo. As fontes do trabalho académico são outras e exigem um contributo pessoal. O objetivo de um trabalho de pesquisa não é acumular “informação”, é procurar, criar, organizar e apresentar conhecimento. A internet, sendo hoje um instrumento incontornável, não é o melhor meio para o fazer.
A internet não deve ser totalmente desprezada, mesmo para o trabalho filosófico. Hoje encontramos lá repositórios de trabalhos académicos (Google books, internet archive, JSTOR, B-on, etc.) com obras e revistas de que por vezes não dispomos nas nossas bibliotecas. Há mesmo recursos de grande especialização filosófica preparados para a internet (por exemplo a Stanford Encyclopedia of Philosophy). Mas, essa é uma ínfima parte do que se encontra na internet. Por isso, a pesquisa em biblioteca, o trabalho direto com os livros, revistas e enciclopédias, a reflexão individual, continuam a ser o melhor treino que um investigador ou um filósofo podem ter. Os livros e as bibliotecas, apesar de tudo o que de inútil e repetitivo nelas também existe, são os verdadeiros instrumentos laboratoriais do filósofo.
Um utilizador experiente sabe que a maior parte do que se encontra na internet são inutilidades dispensáveis, ou lixo que deve ser evitado. O melhor da internet é a oportunidade prática e de treino para o reconhecimento e distinção da boas e das más fontes de informação. Isso não se aprende a ler só o que está na internet, mas sim a trabalhar numa boa biblioteca, adquirindo uma preparação sólida e a capacidade para distinguir o útil do inútil, o bom do mau livro ou artigo.
8.1. Estudo do texto e dissertação em Filosofia
8.2. Metodologia do trabalho filosófico, na WWW
8.3. Metodologia da pesquisa, da elaboração e da apresentação dos trabalhos
8.3.1. Organizar a pesquisa
8.3.2. A dissertação (modelo francês)
8.3.3. Modelos de apresentação de trabalhos
8.4. A erudição
Grafton, Anthony, Les origines tragiques de l’érudition: une histoire de la note en bas de page, trad. fr., Seuil, Paris 1998. [Bibl. FLUP: 8d/IV/241]