[Este texto encontra-se em revisão. Foi retirado do relatório apresentado para agregação em 2007]
[As referências bibliográficas são dadas de modo abreviado e estão desenvolvidas nas outras páginas deste site]
A “filosofia medieval” não é um modo ou um momento isolado que permaneça estanque na história do pensamento, como se para ela o tempo se tivesse suspendido e muito menos os cerca de mil anos que se colocam sob esta etiqueta são marcados por múltiplas transformações e modificações. Compreender a natureza e concretizações das filosofias medievais exige inserção na história e na história da filosofia.
Os estudantes são incentivados a fazer um contacto pessoal e continuado com histórias da Filosofia e sobretudo com as Histórias da Filosofia Medieval, sobretudo as mais recentes, assim como com outros instrumentos de pesquisa mais especializados, Mas, a leitura e discussão dos textos dos autores dessa época é o único modo de fazer a experiência de um pensamento de que simultanemanete estamos distantes e próximos.
Na perspectiva da formação dos estudantes e da consolidação dos conhecimentos sobre a filosofia de um dado período histórico, inserindo-a no seu devir, é necessário o hábito de consulta e a referência a histórias e manuais de Filosofia Medieval. Um primeiro contacto pode explorar alguma das que são parte de histórias da filosofia mais gerais, como a obra dirigida por Châtelet (cfr. AAVV, 1974, trad. port.) ou a dirigida por Parain (cfr. Jolivet 1969), ou o volume dirigido por Marenbon (1995). A continuidade e rupturas com a filosofia antiga, em particular com o período helénico e os neoplatonismos são bem expressas por Couloubaritsis (1998), mas Armstrong (1967) continua a ser útil para o período helénico e início da Idade Média; Kretzmann et al. (1982) centrando-se na Idade Média final, sublinham a redescoberta de Aristóteles como marca de renovação unificadora da Filosofia a partir do século XII, e a sua continuidade e esvaimento no período moderno com a chamada “segunda escolástica”. É também múltipla a oferta de histórias gerais da Filosofia Medieval. Em português dispõe-se agora de Carvalho (2002), que, para além de uma abordagem ampla, restitui a diversidade temática e de orientações, introduzindo a Filosofia Medieval na longa duração e mostrando a sua relação complexa com os períodos contíguos; Xavier (2007) introduz a um conjunto selecto de questões, com particular destaque para o conhecimento e a liberdade. Vignaux (1994, nova trad. port.) continua a ser uma inovadora e sugestiva introdução, centrada em problemas de natureza gnoseológica e metafísica, enquanto Luscombe (trad. port. 2000) propõe uma síntese mais histórica. A obra de Gilson (em especial 1955, mas também a antecessora em francês, de 1947, agora com tradução no Brasil 1995), apesar de muito discutida e contestada na sua pretensão de fazer equivaler a filosofia medieval a uma “filosofia cristã”, continua a ser de grande préstimo e com um didactismo inigualado, propondo sínteses sistemáticas para cada autor, baseadas na própria leitura dos textos (apesar de na versão de 1947/1985 nem sempre serem identificados ou citados), razão pela qual os alunos são aconselhado a recorrer a esta obra como primeira leitura para cada autor estudado. Outra obra de sua co-autoria, de que existe tradução em português, tem a vantagem de incluir excertos de textos medievais em edição bilingue (Boehner – Gilson, 1970). Uma perspectiva plural e laica da história da Filosofia Medieval, a partir do policentramento geo-cultural da Idade Média, com apresentação da filosofia nos mundo bizantino, islâmico árabe e persa, na diáspora hebraica, no mundo latino é oferecida por de Libera (1993, com tradução no Brasil em 1998), autor que no pequeno volume de 1989 (também disponível em tradução brasileira) optara por uma apresentação temática, sobretudo do período posterior ao século XII. Couloubaritsis (1998), já citado, apresenta as mesmas 4 grandes tradições geo-culturais não em separado, como de Libera, mas em paralelo, por períodos de tempo. De entre a oferta apenas disponível em outras línguas sugerem-se aos alunos outras obras. Flasch (1987, trad. franc. 1992) constrói uma imagem dinâmica do pensamento medieval, através da apresentação da dialéctica interna de diversos debates onde se implicam sempre factores de natureza filosófica, social e política. A citada obra dirigida por Kretzmann et al. (1982), não sendo introdutória contém artigos muito importante, que, quando é o caso em temas particulares, são aconselhados aos alunos. Numa perspectiva próxima, McGrade (2003) oferece agora uma visão de conjunto concisa e cronologicamente ampla, interessada em responder ao que era “filosofia” para os medievais e como a faziam. Marenbon (2007) trata também as 4 grandes tradições filosófico-linguísticas, numa apresentação cronológica, com atenção à análise filosófica e ao contexto intelectual, pontuada por estudos temáticos. Em língua castelhana, na qual existe uma maior disponibilidade de obras que em português, aconselham-se Rámon Guerrero (1996), que valoriza o pensamento no mundo islâmico e insere uma secção sobre a filosofia na Península Ibérica, e também Heinzmann (1992, trad. do alemão 1995). A história da filosofia medieval mais desenvolvida de todas, embora seja de facto uma história da Teologia, é a coordenada por d’Onofrio (1996). Para os temas relacionados com o pensamento em Portugal durante a Idade Média existe agora Calafate (1999).
A tradição dos cursos sobre Filosofia Medieval poderia aconselhar fazer coincidir o programa da disciplina com o estudo de um bom manual, e em português existem, como se constata, alguns que poderiam ser úteis para este fim. Haveria algumas vantagens nessa metodologia, em primeiro lugar o facto de o aluno ter uma referência de estudo precisa, mas dela resultaria também um empobrecimento de perspectiva e até rigidez repetitiva, fazendo crer que o que se esperava era uma assimilação das perspectivas do autor do manual seleccionado. Poderia também optar-se pelo estudo monográfico de autores, ou mesmo da obra de um autor, ou até de um tema, para os quais seria também mais ou menos fácil encontrar literatura secundária de qualidade. Aliás, essa é a orientação maioritária da generalidade dos países onde se ensina Filosofia Medieval (cfr. os casos de Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, etc.), onde os cursos da disciplina têm um recorte monográfico e raramente didascálico (que é mais comum em Portugal ou Espanha e na parte institucional da disciplina em Itália). Como atrás ficou indicado, a opção metodológica pela leitura de textos e sua contextualização na época e no complexo de problemas em que cada um emerge, em aproximações sucessivas e alargadas, obrigava, contudo, à eleição de outro material como base de estudo. Tornou-se portanto necessário compilar o material a usar e disponibilizá-lo aos alunos.
Para o estudo e a contextualização de temas e autores, os alunos são também incentivados a fazer uso de obras de referência, como Enciclopédias especializadas e dicionários temáticos, em particular o Dictionnaire du Moyen Âge, (2002), ou a Routledge Enciclopedia of Philosophy (1998) e mesmo a The Stanford Encyclopedia of Philosophy, em acesso livre na rede e já com um bom número de artigos sobre filosofia e autores medievais.
A consulta de revistas especializadas é menos expectável no nível de formação inicial, mas o contacto com as mais importantes revistas é ainda a melhor forma de acompanhar as tendências e metodologias actuais da pesquisa filosófica.
A pesquisa pessoal é particularmente importante na aprendizagem e formação, sendo que a realização de trabalhos de pesquisa é uma forma adequada para uma a aquisição de conhecimento duradouro e aberto à incoporação de resultados novos. Pela realização de trabalhos de pesquisa aprende-se não só a lidar com múltiplas fontes, a integrar posições de diferentes autores, a lidar com interpretações, bem como a expor resultados do conhecimento adquirido de uma forma técnica mas também capaz de evidenciar os contributos pessoais que resultam da pesquisa realizada.