Imago Mundi, 9
Abelardo (c. 1079 - 21 de abril de 1142), genial e provocador, foi o mais brilhante filósofo e teólogo do século XII, século de descoberta e renascimento. Poeta e trovador, mestre que atrai alunos de toda a parte, amante da bela e erudita Heloísa. Esta vida itinerante e aventurosa é-nos parcialmente conhecida pela carta a um amigo em que se queixa de infortúnios sucessivos, texto que inaugura a autobiografia. Émulo de Aristóteles, como a si mesmo se apresenta, foi como mestre de lógica que mais se ilustrou, defendendo um não-realismo acerca dos universais, pelo que é considerado precursor do nominalismo. A Ética ou Conhece-te a ti mesmo, concluída por volta de 1138, recupera a herança antiga e socrática para o interior da moral e da teologia cristãs, distingue-se pela exigência de racionalidade e fundamentação filosófica. Para Abelardo, nem as inclinações naturais nem qualquer ato são, em si, pecaminosos: apenas o consentimento e a intenção do agente atestam do valor moral de uma ação. Esta e outras teses teológicas constaram da lista de heresias que, no Concílio de Sens em 1141, levarão à sua excomunhão e à condenação das suas obras.
Filipe das Neves Gonçalves é Mestre em Filosofia Medieval pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com uma dissertação onde estudou e traduziu a Ética ou Conhece-te a ti mesmo de Abelardo.
Manuel Francisco Ramos é Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Docente de Latim, é autor de traduções e estudos sobre autores clássicos, medievais e renascentistas, nomeadamente sobre as Orationes de Jean Jouffroy em favor do infante D. Pedro.
Vera Rodrigues, investigadora no Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, licenciou-se nesta faculdade e prosseguiu estudos em Roma, Londres e Paris, onde concluiu o doutoramento na École pratique des hautes études (Paris IV - Sorbonne), com uma tese sobre Teodorico de Chartres (séc. XII). Publicou trabalhos sobre filosofia natural, ontologia, lógica medievais e as diversas modalidades da sua articulação.
Índice
Breve cronologia da vida e obra de Pedro Abelardo
1079 - Nasce em Le Pallet, Bretanha, França.
1092 - Condenação de Roscelino por heresia em Soissons.
1093-1099 - Frequenta escolas em Tours e Loches, onde se torna discípulo de Roscelino.
c. 1101 - Discípulo de Guilherme de Champeaux, em Paris.
1102-1105 - Abre escola em Melun. Depois em Corbeil (1104), ensina lógica com grande sucesso. Primeiras obras lógicas: Introductiones parvulorum e glosas literais à Isagoge de Porfírio, De interpretatione, De divisione e Categorias de Boécio.
1105/8 - Doente, retira-se para a Bretanha.
1108 - Regresso a Paris, onde frequenta de novo a escola de Guilherme de Champeaux, em S. Victor, para aprender retórica; discussões sobre os universais.
1109-1112 - Regresso ao ensino, em Melun. Logo a seguir em Paris onde funda escola no monte de Santa Genoveva.
1113 - Frequenta lições de Teologia de Anselmo de Laon. Escreve o Comentário sobre Ezequiel (perdido). Guilherme de Champeaux torna-se bispo de Châlons.
1114-1017 - Ensina teologia, filosofia e lógica na escola catedralde Notre-Dame de Paris. Heloísa, sobrinha do cónego Fulberto, como aluna.
1114/16 - Início do romance com Heloísa.
1117 - Nascimento do filho Astrolábio. Casamento com Heloísa em segredo. Escreve a Logica ingredientibus e inicia (?) a Dialectica.
1117 - Abelardo é emasculado, por ordem do tio de Heloísa. Morte de Anselmo de Laon.
1118 - Abelardo e Heloísa fazem votos monacais. Monge na abadiade Saint-Dinis (onde provavelmente termina a Dialectica).
1120-1121 - Completa a Theologia «summi boni», depois condenada (sem debate e sem possibilidade de defesa) no Concílio de Soissons (1121), obra depois transformada em Theologia christiana.
1122-1124 - Funda o oratório do Paráclito. Compõe o De intellectibus.Inicia o Sic et non e a Theologia christiana.
1125-1127/28 - Abade de Sainte-Gildas (Vannes, Bretanha), cujos monges tentam assassiná-lo. Retira-se do ensino público. Heloísa Abadessa do Paráclito. Escreve a História das minhas calamidades; termina a Logica «nostrorum».
1125-1128 - Termina a Logica «nostrorum», o Sic et non, a Theologia christiana (1125-1126). Inicia (?) o Diálogo. Solilóquio (1126-1128).
1131 - Termina o Diálogo.
c. 1133-1140 - Retoma o ensino em Paris, em Santa Genoveva (até 1140/41), onde tem como discípulos Arnaldo de Brescia e João de Salisbúria. Retoma a correspondência com Heloísa (1134), a cujas questões responde (Problemata) e para cuja comunidade religiosa escreve uma Regula, Sermones, Himnarius, Planctus, Hexaemeron (1134-36). Termina a Theologia scholarium. Hostilidade de Guilherme de S. Teodorico e Bernardo de Claraval.
c. 1138 - Termina o Conhece-te a ti mesmo. Em 1139 Bernardo escreve contra Abelardo.
1140-1141 - Responde a Bernardo com a Apologia contra Bernardum.Concílio de Sens condena ao fogo obras de Abelardo, que apela ao papa.
1141-1142 - Em viagem (1141) para Roma, Pedro o Venerável convence-o a ficar em Cluny. Escreve o Carmen ad Astralabium.
1142 - Morre a 21 de Abril, em Cluny.
1162 - Morte de Heloísa
A publicação deste volume contou com o apoio do Projeto estratégio do Instituto de Filosofia (Ref.ª PEst-C/FIL/UI0502/2011), financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade - COMPETE (Ref.ª FCOMP-01-0124-FEDER- 022671) e por Fundos Nacionais, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.