Imago Mundi, 11
Pedro de João Olivi (c. 1248-1298) foi um dos grandes teólogos franciscanos da Idade Média. Nasceu em Sérignan, na Provença e entre 1267 e 1272 estudou em Paris. Nos anos seguintes ensinou em diversos conventos da Ordem, contexto onde escreveu as suas obras, marcadas por uma profundidade e rigor que acentuavam a ousadia doutrinal e especulativa do seu pensamento. As suas obras de teologia e de exegese bíblica foram por diversas vezes colocadas sob suspeita, críticas a que respondeu sempre convencendo os críticos, mas que seriam condenadas pela Igreja após a sua morte. O Tratado sobre os contratos foi provavelmente redigido em Narbonne entre 1293 e 1295. Redescoberto apenas nos anos 70, suscita de imediato grande interesse, dando origem a interpretações divergentes que não deixavam de evidenciar a sua novidade e importância para os desenvolvimentos seguintes do pensamento económico. O grande defensor e teorizador da pobreza franciscana revela-se neste Tratado um arguto e perspicaz pensador da economia.
Retoma-se aqui a mais recente edição crítica do texto latino, que resolve inúmeras das dificuldades de interpretação que subsistiam nas edições anteriores. O volume inclui ainda a edição e tradução de um breve opúsculo de Olivi sobre a leitura de livros dos filósofos. De Olivi foram publicados Três textos teológico-políticos sobre o poder do Pontífice Romano no volume 7 desta coleção.
Luis Alberto De Boni é Professor jubilado de Filosofia Medieval (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre) e investigador do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. É autor de vasta obra publicada, onde sobressaem inúmeros estudos e traduções de Metafísica, Política e Filosofia de autores da Idade Média.
Sylvain Piron é Maître de conférences na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e é autor de uma extensa obra de edição e estudo do pensamento de Pedro de João Olivi.
Joice Beatriz da Costa é Professora de Filosofia na Universidade da Fronteira Sul, Erechim, Rio Grande do Sul, Brasil.
Ferdinand Delorme (1873-1952), franciscano e professor de teologia moral e de direito canónico, editou criticamente diversas obras de autores medievais.
Índice
Imago Mundi, 7
Pedro de João Olivi (c. 1248-1298) nasceu em Sérignan, na Provença. Em 1260 entra na ordem franciscana onde realiza estudos e se destaca como aluno brilhante. Entre 1267 e 1272 estudou em Paris. Após o regresso à sua província é incumbido de ensinar teologia aos confrades. As suas posições sobre a pobreza na ordem franciscana e questões teológicas conduzem a uma inquirição e à acusação de defender doutrinas filosóficas e teológicas heterodoxas, pelas quais é condenado, sendo interdita a leitura e circulação das suas obras. Conseguindo explicar-se volta a ensinar, mas poucos anos depois é de novo suspeito de heterodoxia. Consegue de novo responder aos seus críticos e é mais uma vez autorizado a ensinar na Ordem. Após a sua morte as suas posições seriam condenadas em 1311 e 1326. Com um pensamento rigoroso e audaz assumiu posições inovadoras em diferentes domínios, incluindo em questões de epistemologia, de economia, de moral e sobre a vontade livre, de metafísica, de teologia e de mística, de interpretação bíblica. Apesar da originalidade e da influência em autores como Duns Escoto, Pedro Auréolo ou Ockham, uma parte da sua obra continua inédita. Este volume inclui a edição e tradução de três textos de teologia política sobre o poder do papa: a Questão a respeito da infalibilidade do pontífice romano, três Questões sobre o Pontífice Romano e o opúsculo Sobre a renúncia do Papa. Os textos são antecedidos de uma introdução sobre o autor, a sua obra e as posições principais defendidas nestes textos.
José Antônio Camargo Rodrigues de Souza (1949-2017) Licenciou-se em Filosofia. Foi Mestre e Doutor em História Social pela Universidade de S. Paulo. Doutorou-se também em História da Filosofia e da Cultura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa. É autor de diversas obras, artigos e comunicações sobre o pensamento político medieval. Traduziu do latim diversas obras, entre elas o Diálogo - Livro III de Guilherme de Ockham e o Sobre o governo cristão de Tiago de Viterbo (ambas nas ed. Húmus, Famalicão 2012).
Índice
Breve cronologia da vida e obra de Pedro João de Olivi
Ca. 1248 - Nasce em Sérignan, no Languedoc, próximo de Béziers, na Provença, também conhecida como Ocitânia, ou região da Langued?Oc (provençal) ou do Midi.
1260 - Com a idade de doze anos ingressa na Ordem dos Frades Menores, no convento de Béziers.
1267-ca. 1272 - Estuda filosofia e teologia na Universidade de Paris.
1273 - É ordenado sacerdote.
1278 - Início dos conflitos com as autoridades religiosas. Jerónimo de Ascoli, Ministro-geral da Ordem dos Frades Menores, ordena-lhe queimar uma Quaestio que havia escrito sobre a Virgem Maria.
1279 - Participa com o canonista Benedito Caetani, futuro Bonifácio VIII, e outros frades, da comissão pontifícia incumbida de estudar e emitir um parecer conclusivo acerca da interpretação do significado da pobreza na Regra franciscana.
Ca. 1282 - Conflito com a cúpula da Ordem. Desta vez chegou à direção da Ordem um texto em que Olivi era acusado de professar doutrinas filosóficas e teológicas heterodoxas. Foram catalogadas em 34 proposições extraídas ad litteram dos seus escritos, sobretudo relacionadas com a pobreza. No ano seguinte, o Geral ordenou que uma comissão constituída por sete frades examinasse as proposições, o que resultou na condenação de 22 delas. As suas obras foram retiradas de circulação. Num outro documento as 34 teses foram consideradas heréticas.
1283-1285 - Olivi defende-se das acusações de que era alvo em vários capítulos da Ordem.
1287-1289 - Eximido de qualquer suspeita de heterodoxia pelo ministro geral, Mateus de Acquasparta, é nomeado leitor de teologia para o studium de Santa Cruz em Florença, um outro reduto dos Espirituais, onde permanece por dois anos.
Ca. 1289 - É transferido, pelo novo ministro geral, Raimundo Gaufredi, para Montpellier onde assume também a função de leitor.
1292 - No capítulo geral de Paris, volta a ser pedido a Olivi que explique as suas teses sob suspeita de heterodoxia. As suas explicações são consideradas satisfatórias.
1293-1298 - Ensina no studium de Narbona até à sua morte, em 14 demarço de 1298.
A publicação deste volume contou com o apoio do Projeto estratégio do Instituto de Filosofia (Ref.ª PEst-C/FIL/UI0502/2011), financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade - COMPETE (Ref.ª FCOMP-01-0124-FEDER- 022671) e por Fundos Nacionais, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.