Imago Mundi, 13
Francisco Suárez (1548-1617), padre jesuíta, foi um proeminente filósofo e teólogo da escolástica peninsular. Exerceu atividade como professor de filosofia (Segovia e Valladolid) e de teologia (Roma, Madrid-Alcalá e Coimbra). Do seu legado preserva-se uma vastíssima produção, influente sobretudo nos domínios da metafísica, da filosofia jurídico-política e da teologia. A disputação intitulada Sobre os atos que se chamam paixões publica-se aqui em primeira edição em línguas modernas, a par do texto latino original. Nela, Suárez comenta os principais textos da tradição filosófica antiga e medieval, a oriente e a ocidente, sobre as paixões da alma (ou emoções) e sobre a sua influência na constituição dos atos humanos. Na explicação do agir moral, Suárez valoriza a estrutura psicofisiológica da natureza humana, recorrendo frequentemente aos textos e conhecimentos da ciência médica do seu tempo. A obra revela aspetos importantes das posições de Suárez e dos debates da época sobre a natureza e origem das paixões da alma e a sua relação com as faculdades superiores do homem.
Paula Oliveira e Silva, Professora Auxiliar no Departamento de Filosofia da Universidade do Porto. As suas áreas de investigação e docência são a Filosofia Medieval e a Ontologia, tendo publicado diversos estudos sobre as Disputações Metafísicas de Francisco Suárez e sobre o seu tratado De fine ultimo hominis. É investigadora no Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. Nesta unidade de investigação dirigiu o projeto "Animal Rationale Mortale. A relação corpo-alma e as paixões da alma nos Comentários ao De anima de Aristóteles das Universidades portuguesas do séc. XVI", no âmbito do qual se preparou esta publicação.
Angel Poncela Doutor em Filosofia pela Universidade de Salamanca, com a tese intitulada: Francisco Suárez, lector de Metafísica IV y XII. Posibilidad y límite de la aplicación de la tesis Onto-teo-lógica a las Disputaciones Metafísicas (2008). Professor do Departamento de Filosofia, Lógica e Estética da Universidade de Salamanca, onde coordena a licenciatura (História da Filosofía) e o mestrado em Ensino da Filosofia. Publicou diversos estudos, proferiu conferências e dirige seminários de investigação sobre a metafísica de Francisco Suárez e sobre escolástica peninsular. As suas áreas de investigação são a filosofía aristotélica, tanto oriental como ocidental.
Índice
Estudos & textos
O presente volume explora alguns dos pontos chave das Disputações de Metafísica de Francisco Suárez em torno de três temas, a saber: "A ciência Metafísica", os "Transcendentais", a "Causalidade", pondo em paralelo os estudos e a tradução de excertos selecionados desta obra de Suárez.
A obra resulta do projeto Iberian Scholastic Philosophy at the Crossroads of Western Reason: The Reception of Aristotle and the Transition to Modernity, PTDC/FIL-FIL/109889/2009. Por ser um projeto desenvolvido em paralelo com o Imago Mundo e por vários dos tradutores pertencerem a ambos os projetos, publicam-se aqui as secções traduzidas e incluídas na Antologia:
Francisco Suárez, Disputações Metafísicas (Seleção de textos em tradução):
1. Razão e percurso de toda a obra e Proémio, trad. C.A.R. do Nascimento, pp. 323-328. pdf
2. A natureza da filosofia primeira ou metafísica, Disputação I, Secção I, trad. C.A.R. do Nascimento, pp. 329-349. pdf
3. Se a metafísica é uma ciência especulativa perfeitíssima ou verdadeira sabedoria, Disputação I, Secção V, trad. C.A.R. do Nascimento, pp. 351-354. pdf
4. Da unidade individual e o seu princípio, Disputação V, Secções I, II, V e VI, trad. P. Faitanin, pp. 355-432. pdf
5. Os diversos géneros de distinção, Disputação VII, Secção I, trad. P. Oliveira e Silva, pp. 433-455. pdf
6. A verdade ou o verdadeiro, que é uma propriedade do ente, Disputação VIII, Secções I a V, trad. P. Oliveira e Silva, pp. 457-496. pdf
7. A verdade ou o verdadeiro, que é uma propriedade do ente, Disputação VIII, Secções VII e VIII, trad. R.H. Pich e P. Oliveira e Silva, pp. 497-533. pdf
8. Como e em que é que se diferenciam, nas criaturas, o ente em potência e o ente em ato, ou a essência em potência e em ato, Disputação XXXI, Secção III, trad. A. Cardoso, pp. 535-539. pdf
9. Divisão do acidente em nove gêneros supremos, Disputação XXXIX, Secção I, trad. J.J Lima e P. Oliveira e Silva, pp. 541-552. pdf
Breve cronologia da vida e obra de Francisco Suárez
1548 - Nascimento em Granada, 5 de Janeiro de 1548.
1561 - Matricula.se em direito canónico na Universidade de Salamanca.
1564 - Abandona o estudo de direito e ingressa na Companhia de Jesus, no Colégio Jesuíta de Salamanca, onde prossegue os estudos de Filosofia, até 1566.
1566 - Terminado o triénio de Filosofia, começa o estudo de Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade de Salamanca. Foram seus mestres, entre outros, os catedráticos de Prima e Vésperas Mâncio de Corpus Christi, OP, e João de Guevara, OSA.
1571-1574 - Leitor de Filosofia em Segóvia. A normativa pedagógica dos jesuítas autorizava o ensino nos seus Colégios aos membros que ainda não tinham sido ordenados sacerdotes mas já tinham cumprido o triénio de filosofia, como era o caso de Suárez, nesta data. No mesmo período é diretor da comunidade espiritual: os seus biógrafos registam o impacto do seu ensino catequético junto das povoações da província de Segóvia. Para este triénio de Filosofia redigiu uma série de comentários ao corpus aristotélico, a maior parte dos quais se perdeu.
1574-1575 - Muda-se para o Colégio jesuíta de Santo Ambrósio de Valladolid como Leitor de Teologia.
1575-1576 - Ensina nos Colégios de Segóvia e Ávila.
1576-1580 - De novo no Colégio jesuíta de Valladolid. Nestes anos interessa-se pela reforma do Carmelo que Teresa de Jesus está a empreender e reúne-se com a mística em duas ocasiões, respetivamente em Ávila e em Valladolid.
1580-1585 - Docência no Colégio Romano, na qualidade de Leitor em Teologia. Nestes anos comenta as seguintes partes e questões da Suma de Teologia: O fim último do homem (S. Th. II-I, qq. 1-5), Os atos humanos (S. Th. II-I, qq. 6-89), A graça (S. Th. II-I, qq. 109-114), As virtudes teologais (S. Th. II-II, qq.1-56 e qq. 122-170) e A incarnação (S. Th. III, qq. 1-26). Participa na redação do Ratio Studiorum que contém o programa pedagógico da Companhia de Jesus.
1585-1592 - Em virtude de frequentes crises respiratórias, regressa a Espanha permutando o seu lugar com Gabriel Vázquez, seu correligionário, e vindo a ensinar, portanto, na Universidade Imperial de Alcalá. As lições versam sobre os comentários às seguintes partes da Suma de Teologia: A Incarnação (S. Th. III, qq. 1-26), Os sacramentos (S. Th. III, qq. 60-65), A Penitência (S. Th. III, qq. 60-65), As censuras eclesiásticas (S. Th. III, qq. 60-65) e Os mistérios da vida de Cristo (S. Th. III, qq. 27-59). É neste período, em Alcalá, que Suárez dá início ao seu intenso trabalho editorial. As primeiras obras que publica são de teologia: De verbo incarnato (1590), De Mysterii Vitae Christi (1592). Em 1591, Gabriel Vázquez regressa a Alcalá, facto que gera conflito entre ambos, dado que Suárez agora ocupa a cátedra que fora de Vázquez. Com o objetivo de pôr fim à contenda movida por este último contra Suárez, o granadino solicitou a sua transferência para o Colégio jesuíta de Salamanca, aproveitando a baixa do professor Miguel Marcos.
1593-1597 - Residência no Colegio de Salamanca.
1593-1594 - Ensina Teologia no Colégio de Salamanca, principalmente a matéria Da Penitencia (S. Th. III, qq. 60-65).
1594-1597 - Nestes anos, Suárez permanece em Salamanca mas sem atividade docente. Esta situação permite-lhe publicar um conjunto de obras teológicas (De Sacramentiis e uma segunda edição do seu De verbo incarnato, ambas com data de 1595). Publica também os dois volumes da sua magna obra Disputationes Metaphysicae, em 1597.
1597 - Felipe II convoca Suárez por duas vezes para que venha para Portugal, ensinar como catedrático de Prima de Teologia na Universidade de Coimbra. Suárez assume a docência em Coimbra, onde chega em 1 de Maio de 1597. Ainda nesse ano dirige-se à Universidade de Évora para obter o grau de Doutor em Teologia, que alcança em 7 de Junho. Regressa a Salamanca onde permanece até Outubro, voltando para Coimbra para aí exercer a docência de Teologia até 1615.
1597-1615 - Neste longo período, Suárez permanece maioritariamente em Coimbra, dedicado principalmente ao ensino e à escrita. Comenta grande parte da Suma de Teologia, nomeadamente: A penitência (S. Th. III, qq. 60-65), A natureza e os atributos de Deus (S. Th. I, qq. 1-49), As Leis (S. Th. II-I, c. 90-108), A Justiça (S. Th. II-II, q. 57-122), A Graça (S. Th. II-I, qq. 109-114), As virtudes teologais (S. Th. II-II, qq. 1-56 e qq. 122-170), A infidelidade e a heresia (S. Th. III, qq. 60-65). Deste ensino resultam as seguintes publicações: Varia opuscula theologica (1599), De Poenitentia (1602), De Censuris (1603), De Deo uno et trino (1606), De immunitate eclesiastica contra Venetos (1607), De Religione I (1608), De Religione II (1609), De Legibus (1612), Defensio Fidei (1613).
1599-1600 - A Universidade esteve encerrada por causa da peste. Suárez deslocou-se a Madrid para a impressão dos seus Varia opuscula theologica.
1603-1606 - Ausenta-se de novo, primeiro para Valladolid e Madrid e, a partir de Junho de 1604, para Roma, tendo sido substituído no ensino em Coimbra por outros teólogos de renome, entre os quais Cristóvão Gil e Egídio da Apresentação.
1604 - Retoma o ensino em Coimbra, embora viesse solicitando repetidamente, quer ao rei, quer ao Geral da Companhia, licença para abandonar a cátedra, devido a problemas de saúde. Porém, a dispensa de ensino só lhe chega em 1615.
1615-1617 - Retira-se para a casa professa da Companhia de Jesus em Lisboa, onde permanece até ao seu falecimento, dedicado a preparar a edição das suas obras.
1617 - Morte de Suárez em Lisboa, 25 de Setembro de 1617. Os seus restos mortais encontram-se depositados na capela do altar da Anunciação da Igreja de São Roque, em Lisboa.
A publicação deste volume contou com o apoio do Projeto estratégio do Instituto de Filosofia (Ref.ª PEst-C/FIL/UI0502/2011), financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade - COMPETE (Ref.ª FCOMP-01-0124-FEDER- 022671) e por Fundos Nacionais, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.